De onde surgiu o M23?

People fleeing fighting in Eastern Democratic ...

Instabilidade na fronteira provoca êxodo de habitantes (Photo credit: Oxfam International)

A República Democrática do Congo, antigo Zaire, é talvez o principal estereótipo africano. É o segundo maior país do continente em expansão territorial, recheado de selvas tropicais, rica fauna (mamíferos como gorilas, leopardos, guepardos, leões e elefantes compõem a vida animal) e rico também em minerais (abundam cobre, cobalto, diamantes, ouro, ferro e urânio). As mesmas densas selvas são apontadas também como origem dos letais vírus HIV e Ébola.

É na RD Congo (tal nome é utilizado para diferenciar o país do vizinho e menos célebre Congo) que se ambientam algumas das principais histórias que povoam o imaginário popular sobre a África. Foi lá que o revolucionário nacionalista irlandês Roger Casement presenciou e denunciou abusos no início do século XX, romanceados por Mario Vargas Llosa em O sonho do celta. Uma das figuras que melhor representa os corruptos ditadores africanos pós-descolonização também é de lá, Mobutu Sese Seko (governou por mais de 30 anos).

M23 – O país ganhou destaque recentemente por ter uma guerrilha atuando de maneira agressiva em seu território leste, próximo às fronteiras com Uganda e Ruanda. Em 20 de novembro de 2012, o grupo denominado M23 tomou controle de diversas cidades na província de Kivu do Norte, inclusive Goma, capital da província e fronteira com a Ruanda. Dias depois, deixaram a região urbana, fruto de um acordo de paz.

Para quem acompanha de longe a recente instabilidade na África provinda de terroristas, o M23 deve se enquadrar na cesta dos movimentos fundamentalistas islâmicos que querem impor a Sharia a qualquer custo, certo? Como o Boko Haram (Nigéria), Shebab (Somália) e os diversos grupos que atuam no Mali…? Não.

Para começar, a presença islâmica nessa região do continente é muito baixa. Depois, o M23 não tem nada de religioso. Sua motivação é puramente política (M23 é sigla para Movimento 23 de março, referência a data de um acordo de paz) e ele é dissidente de milícias guerrilheiras que estiveram em confronto com o governo nas duas últimas décadas.

Domínio público

M23 deixa Goma, em novembro/dezembro de 2012

Má vizinhança – O problema é que a fronteira entre Ruanda e a DR Congo é alvo de constante tensão. O genocídio em Ruanda gerou um êxodo de refugiados para o país vizinho e o consequente sentimento de vingança, que culminou em duas guerras na região (conhecidas como Primeira e Segunda guerra do Congo, nos anos 90-2000). Os dois países se acusam de financiar guerrilheiros em lados opostos. Ruanda, governada pelo tutsi Paul Kagame, financiaria o M23 enquanto a DR Congo financiaria as FDLR – Forças Democráticas pela Liberação de Ruanda, grupo de etnia hutu – as vítimas do genocídio de 1994.

Nessa irracional queda de braço em que os dois países estimulam a instabilidade no outro lado da fronteira, mais uma crise humanitária se formou. O genocídio de quase 20 anos segue tendo seus desdobramentos. Quando a situação foi apaziguada, deram o assunto como resolvido. Não está. O M23 é fruto e prova disso. São necessárias medidas mais drásticas, definitivas e pacificadoras para resolver a questão étnica e os ressentimentos na região, ou o derramamento de sangue continuará por muitos anos.

2 pensamentos sobre “De onde surgiu o M23?

  1. Para todo um conflito existe uma saida. Isto esta longe de acontecer na RDC, porq o presidente Kabila esta disgovernado, tudo porq ele nao consegue horar com o compromisso ou acordo q assinou com o M 23. Em contra partida montou um sistema de governaçao, onde os antigos politicos e chefes militares q trabalharam com o seu suposto pai (Kabila), sao raptados e levados para destinos incertos. Dentre tantas outras atrocidades cometidas por Kabila, ele esta a adiar o futuro sadio para a populaçao da RDC, tornando-o num pandemonio.

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